Tuesday, December 5, 2006

Cartas de Separação

Querido Tom,

Estou escrevendo essa carta para dizer algumas palavras significativas para mim e para você. Algumas dessas palavras conterão o germe da revolução do nosso relacionamento, acentuando a tendência declinante dele.

Tudo começou com o meu curso de sociologia. Eu tive meu primeiro contato com Marx e com suas idéias maravilhosas. Aprofundando meu estudo do Capital, eu percebi o quão fútil eu era em me preocupar com a minha vida emotiva. Existe tanta coisa importante para ser implementada. Eu descobri que a mudança do modo de produção depende do meu intelecto. Eu, sendo um profundo conhecedor das contradições internas do capitalismo e das exarcebadas desigualdades que ele gera entre as pessoas, tenho meu dever como pessoa humana de lutar contra isso. Como você demanda muito tempo e muito dinheiro (e não há nada mais capitalista que dinheiro), eu preciso abdicar das minhas relações sociais com a sua pessoa.

Além do que, como eu já falei, a preocupação com a vida emotiva não levará nossa sociedade a lugar algum. Eu tenho que ser o primeiro em abrir mão disso. Se você quiser ser meu companheiro de luta, pode-se juntar a mim. Quanto mais pessoas nessa batalha contra o capitalismo, melhor. Mas, saiba que seremos apenas companheiros de luta, nada mais que isso. Não posso me desconcentrar do meu dever.

Digo, então, "adeus" ao nosso namoro, e inicio minha empreitada contra esse modo de produção cruel, que despersonaliza as pessoas e as torna meras mercadorias.

Um beijo vermelho pra você!

Lenin

P.S.1: Pode ficar com meu disco do Pixinguinha, sim, porque ele é apenas uma mercadoria, um fruto do capitalismo.

P.S.2: Meu nome deixou de ser George, porque George é um nome capitalista e é o nome do presidente da maior nação imperialista. Só atendo agora por Lenin.